Gustavo Amaral Texto Bernardo Biagioni 17 de Fevereiro, 2016
Todo mundo sabe que as cidades foram erguidas para serem destruídas, disse o homem. Olhamos em volta. As margens, as várzeas, as escórias e as estruturas rígidas de um tempo em desabandono. Quanto tempo irão durar estes prédios de arquiteturas chulas e improvisadas pelo desclamor dos versos? O fim é certo, mas é incerta a duração do sonho.
Somos arquitetados para viver em nossos corpos. Seguindo nossas linhas e previsões astrais que articulam os andares, os olhares e as vontades guinadas pelo calor dos trópicos. Reféns da matéria e de toda existência que não seja plena. Somos orgânicos e não-retornáveis, pouco amáveis e indóceis quando comparados a natureza inconsciente das coisas.
Gustavo Amaral percebe a colagem que é o universo dos sentidos. O diálogo de uma cidade que é recortada por prédios, tédios e anseios mundanos. A malevolência do corpo, este habitat que escolhemos para morar, mobiliar e criar diante de perspectivas imaginadas pela promessa empírica de plantar, cultivar e colher o desejo que desenhamos.
Nos enganamos. Construímos uma imagem a partir da colagem de verdades que interpretamos. Organizamos o mundo conforme nossas ânsias e anseios, nossos medos e ensejos; e arquitetamos o futuro através da lembrança da saudade que sentimos. Somos o passado e o presente tentando recriar o corpo e a cidade onde (não) nascemos.