Luís Matuto Texto Bernardo Biagioni 28 de Outubro, 2015
Somos novos aqui. Almas flamejantes a vagar pelas ruas escuras de uma cidade um tanto iluminada. Viajantes do acaso, encontramos nas montanhas o ritmo inesperado do tempo; esta busca por amor e acalento para nos confortar das angústias que sopram o vento.
Confesso que sinto. A dor e o desassossego de ser contemporâneo de mim mesmo. Observando a cidade crescendo, os dias encolhendo, e a saudade sendo tateada pela lembrança da infância arrastada pelas casas, árvores e quintais que desinventamos.
Luís Matuto vem de Alfenas, mas faz um retrato deste bairro um tanto particular de Belo Horizonte – Santa Cruz – onde seus avós moraram por 40 anos. Dividindo o apartamento com uma planta, Matuto é cúmplice de uma cidade em processo. Pela janela desenha a calmaria e o caos. As noites de calor e as manhãs de frio. O progresso. E o regresso.
Pinturas, enfim. Foi desafiador tirar do gravador as pinceladas de tinta. Este registro terno de inquietude e melancolia. Personagens e arquiteturas de uma cidade crua. A dor que vem das montanhas, a cor que emerge das ruas.