Esta Casa Vai Ser Demolida
Baba Jung
Texto Bernardo Biagioni
Fotos Bernardo Biagioni e Fernando Biagioni
26 de Agosto, 2015
Espaço público temporário, veja. Existia aqui uma casa; pincelada de tinta e argamassada de tempo. Moraram filhos, pais, avós e tios que zapeavam canais de rádio em busca do conforto ao fim do sol do dia. Pendia pela varanda um filete incandescente de luz. Mesas de jantares preparadas para a reza, quartos envelopados de papéis de parede cremes. Cruzavam-se nos corredores. Ninguém subia ao sótão ha anos.
Decreto do vento, da construção e da especulação urbana. A casa veio abaixo para ganhar título de lote. E vago. Vagando a pensar, ficaram os objetos e dejetos de um uso cotidiano. As bacias de prata, os bancos de madeira, as caixas de fruta. Os azulejos e ladrilhos importados do Velho Mundo. A saudade, as angústias. Esculturas de tubulações e fiações remanescentes.
Bairro Serra, Belo Horizonte. Baba Jung esteve visitando os lotes baldios esquecidos e desmerecidos pelas ruas e ruelas que serpenteiam a montanha pela Rua do Ouro. Desvelando o vestígio do tempo; memórias passadas demolidas pelo progresso contemporâneo. Uma cidade que caminha para os prédios e tédios mundanos.
Organizando o caos, o eco e o fim. Reconstruindo a vida a partir da resistência, da poética, da composição, do resgate. Esculturas da lembrança e da mutabilidade de cidades invisíveis que sobrevivem em fotografias envelhecidas pelo tempo onde morávamos em casas. Tínhamos vistas para as montanhas, tomávamos sol e dormíamos com o céu. Como os pássaros. Os pássaros que já não nos visitam mais.